A vitória ontem à noite do deputado Arthur Lira, líder do centrão, não deixa de ser também uma derrota do deputado Rodrigo Maia e uma vitória do presidente Jair Bolsonaro. No primeiro caso, é evidente que Maia foi traído pelo seu partido, o Democratas, tanto que já pensa até em deixá-lo, assim como foi também traído pelo PSDB, ambos bandeados pelos lados do Centrão, na maioria de seus parlamentares, acontecendo o mesmo, em menor escala, com o deputado Baleia Rossi, do MDB, e oponente de Lira – basta ver que o alagoano teve 302 votos e Rossi 145 apenas.
Por Carlos Lindenberg
No segundo caso, não se pode desconhecer que o presidente Bolsonaro saiu vitorioso não apenas contra Rodrigo Maia, mas sobretudo porque, junto com a eleição de Rodrigo Pacheco no Senado, o executivo passa a ter agora o Congresso Nacional nas mãos a ponto de, em tese, fazer dele o que quiser.
Em tese porque a pergunta que se faz agora é se o presidente vai controlar o centrão ou se é o centrão que vai controlar o presidente. A questão, aparentemente singela, esconde uma armadilha nas folhagens do parlamento brasileiro. Ninguém desconhece o tamanho da goela do centrão desde que foi criado pelo ex-deputado Eduardo Cunha com o único fim de obter vantagem – tanto que Eduardo Cunha está preso e não é por acaso.
Foi assim que Cunha tirou a ex-presidente do poder, como reconhece o ex-presidente Temer ao proclamar nesta semana que “Dilma é honestíssima, mas que caiu pela pressão das ruas”, de forma que Bolsonaro vai acabar ficando na mão do centrão que já começa pedindo uma reforma ministerial a fim de alojar os seus apaniguados e obter maior volume de verbas para administrar – o que parece ser a sua especialidade.
De qualquer forma, de tudo isso, e se Bolsonaro conseguir controlar o centrão, o fato é que a sua dupla vitória nessa segunda feira, tanto na Câmara como no Senado – na Câmara Arthur Lira já disse que nem se fala mais em impeachment – não deixa de facilitar a caminhada do presidente em busca de um segundo mandato, pela facilidade com que vai manobrar o Congresso, a menos que o centrão cobre bem mais caro a mercadoria que promete entregar, a começar pelos três bilhões de reais que o executivo teve que liberar para dar a Arthur Lira os 302 votos que lhe garantiram a vitória – sem contar que os partidos de oposição devem entrar nesta semana no Supremo Tribunal Federal com o recurso para anular a decisão de Lira de desfazer todos os atos feitos ainda ontem pelo então presidente Rodrigo Maia, entre eles a divisão igualitária de cargos na mesma e nas comissões temáticas da Câmara, privilegiando os seus e castigando os que não votaram nele, numa atitude autoritária e típica de um “coronel” nordestino, com o devido respeito aos que nasceram naquela região que começa, na verdade, logo ali, em Minas Gerais, no já chamado semiárido nordestino, logo abaixo de Montes Claros.
E por falar no semiárido, vem tempo quente aí, a partir de Brasília, com o Congresso nas mãos dos centrão e com o presidente Bolsonaro duplamente vitorioso. Com o risco, no entanto, de o novo presidente da Câmara, o terceiro na linha sucessória, não poder assumir a função no caso da ausência de Bolsonaro e Mourão, por estar sendo investigado no Supremo Tribunal Federal – o que não deixa de ser um vexame.
Foto: Agência Brasil