“Vontade de encher sua boca de porrada”, declarou o presidente da República.
As frases foram proferidas pelo presidente em frente à Catedral Metropolitana de Brasília. Ele chegou no local às 14h25. Ficou cerca de 5 minutos.
Depois de descer do carro, Bolsonaro dirigiu-se à banca de 1 comerciante. No caminho, o repórter perguntou: “Presidente, por que a sua esposa recebeu R$ 89.000 do Fabricio Queiroz?”
Bolsonaro disse que não iria responder à imprensa. O jornalista insistiu: “Por que foi acima dos R$ 40.000 que o senhor tinha dito?”
Outro profissional, da TV Globo, emendou outra pergunta: “E os depósitos seguidos na conta da empresa do Flávio, presidente? O senhor tinha conhecimento?”
O presidente da República respondeu ao profissional da emissora: “O que? Você quer saber do 1 bi e 750 do Roberto Marinho? É isso?” Em seguida, dirigiu outra frase ao repórter do jornal: “Vontade de encher sua boca de porrada”.
Na sequência, conversou com apoiadores em torno de uma banca de souvenirs. Voltando ao seu carro, foi novamente questionado sobre o caso dos depósitos.
“Presidente, fala dos cheques para sua esposa, presidente. Por que foi acima do que o senhor tinha dito que era? Por que ela recebeu R$ 89.000?”, perguntou o repórter do jornal O Globo.
“Está falando o que? Da família Marinho? Um bilhão e 700? Toma vergonha na cara, fala da família Marinho, fala da família Marinho”, declarou Jair Bolsonaro.
Ele se refere a supostos repasses do doleiro Dario Messer à família Marinho, proprietária da Rede Globo. O presidente usou o caso para atacar o grupo nas redes sociais.
Queiroz depositou R$ 72.000 à primeira-dama. A mulher dele, Márcia, teria repassado outros R$ 17.000.
No fim de 2018, quando apareceram os primeiros indícios de depósitos de Queiroz a Michelle Bolsonaro, o então presidente eleito disse que os valores eram para quitar uma dívida de R$ 40.000.
Queiroz é amigo da família e foi chefe de gabinete de Flávio Bolsonaro, filho do presidente, na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro). Flávio hoje é senador.
O Ministério Público investiga suposto esquema de“rachadinha” quando o filho do presidente era deputado estadual. Trata-se da prática de políticos se apropriarem de salários de assessores pagos pelo poder público.
Queiroz foi preso preventivamente em junho. As autoridades o encontraram em Atibaia (SP), num imóvel de Frederick Wassef, advogado de Flávio e Jair Bolsonaro. Atualmente, Queiroz está em prisão domiciliar.
Essa não é a 1ª vez que Bolsonaro trata repórteres de maneira agressiva. Em maio, mandou uma jornalista calar a boca. Na ocasião, havia ouvido uma pergunta sobre acusação de Sergio Moro. Ao deixar o Ministério da Justiça, o ex-ministro afirmou que o presidente da República queria interferir na Polícia Federal.
Bolsonaro passou a falar menos com a imprensa nos últimos meses. A menor exposição coincide com o afunilamento das investigações sobre Fabrício Queiroz.
O presidente tinha o hábito de falar a apoiadores e jornalistas em frente ao Palácio da Alvorada. Era comum Bolsonaro estimular a animosidade de sua claque contra os jornalistas.
Em maio, bolsonaristas reviraram o lixo em frente ao local onde repórteres ficam na portaria do Palácio da Alvorada para expor os profissionais.
No fim do mesmo mês, algumas das principais empresas de comunicação do país anunciaram que deixariam de enviar repórteres para a porta da residência oficial da Presidência da República. Afirmaram, à época, falta de segurança para os trabalhadores.
Antes, Bolsonaro foi a 1 encontro com conhecidos em prédio de Brasília no qual moram tenentes e capitães. Há 1 setor da capital ocupado por militares e cujos os moradores de cada bloco são, na maior parte, de níveis hierárquicos próximos.
No local, atendeu a cerca de 100 apoiadores que o esperavam Abraçou alguns e tirou fotos, contrariando as recomendações de especialistas em saúde pública que pregam o isolamento social para conter o coronavírus.
Na Catedral, além de dizer que gostaria de agredir o repórter, foi a uma banca de souvenirs e confraternizou com o vendedor.
Foto: Sergio Lima/Poder360