Como as eleições presidenciais acabam definindo os palanques regionais, com seus candidatos majoritários, é praticamente certo que o governador Romeu Zema, já pensando em mudar de partido, acabe ficando mesmo com o presidenciável Jair Bolsonaro, até por falta de uma opção melhor, quer dizer, eleitoralmente viável.
Ao contrário de Zema, que tomou gosto pela administração pública, apesar das trombadas com a Assembleia Legislativa, o prefeito Alexandre Kalil está sendo cobrado, e com razão, pela falta de profissionalismo de sua pré-campanha. Isso poderá ser fatal para o prefeito de Belo Horizonte porque desde o início se sabe que ganha uma campanha quem menos comete erros. E Kalil, a despeito de sua boa condução frente à pandemia, ainda que contrariando alguns segmentos econômicos da cidade, vem conduzindo bem o enfrentamento ao coronavírus, até porque tem ouvido mais a ciência do que os chamados “espíritos santos de orelha”, os palpiteiros que, por exemplo, infestam o cercadinho do presidente Bolsonaro. De forma que se o prefeito Alexandre Kalil quiser mesmo enfrentar o governador Romeu Zema ele precisa já de imediato escalar seu time de campanha, com marqueteiro e tudo o mais, até porque essa campanha vai ser diferente da anterior, quando Kalil se reelegeu com mais de 60 por cento dos votos válidos.
E por que diferente? Primeiro, porque o governador Romeu Zema está instrumentalizado, vem montado no chamado acordo da Vale, o que lhe possibilitará a retomada de uma série de obras em vários pontos do Estado e, como disse, tomou gosto pela coisa e não vai querer largar agora, ainda mais com esse argumento de que quatro anos é muito pouco tempo para se fazer o que o Estado necessita. De forma que esse Zema de agora é diferente daquele Zema de 2018, quando se apresentou como o antipolítico e até pediu votos para Bolsonaro no último debate da Globo. Zema agora já sabe o caminho das pedras, conhece o Estado, ainda que derrape de vez em quando na sua suposta mineirice – não confundir com mineiridade. Enfim, é um Zema, às vezes meio fútil, às vezes meio ingênuo, mas vai tocando, tendo usado com sabedoria o uso de recursos do próprio Estado para colocar em dia o salário dos servidores.
Em contraponto, o prefeito Alexandre Kalil parece meio descuidado com os bastidores de sua pré-campanha, tendo colocado todas as suas fichas, por exemplo, no seu secretário de governo, o ex-presidente da Assembleia Legislativa, Adalcléver Lopes, que conhece bem o interior do Estado – mas sou capaz de dizer que hoje Zema conhece mais – e enfrenta vários problemas na estratégica Câmara de Vereadores, onde já nem se sabe se ele tem maioria ou não, a começar pela extinção da BHTrans, em que Kalil ficou de abrir a famosa caixa-preta e não conseguiu ou nem tentou, de forma que o prefeito de Belo Horizonte precisa de fato recompor a sua estratégia eleitoral, onde, por sinal, ele ganha na Grande BH, mas perde feio para Zema no interior do Estado, onde, aliás, está o maior contingente de votos.
O que pode acontecer daqui para frente, ainda que tudo esteja até agora com os sinais trocados, é a manutenção aqui da polarização que já acontece no Brasil, com os candidatos Lula e Bolsonaro na disputa sem que se possa enxergar, a essa distância, a chamada terceira via. Nesse diapasão, não seria de todo impossível pensar que Kalil, partindo do princípio de que o palanque presidencial monta os palanques regionais, acabe tendo o apoio do ex-presidente Lula, mesmo que Ciro Gomes tenha apoiado o prefeito Kalil na sua reeleição. Ocorre que o jogo agora é outro e não é demais repetir que cada campanha tem a sua própria história, o seu próprio timming, e as suas próprias variáveis, entre elas o possível apoio de Lula a Kalil, a depender, claro, dessas variáveis e de suas composições locais. Mas o que se antevê a essa distância é que Zema já não é o Zema de 2018 e que Kalil tem problemas internos e externos que podem e precisam ser resolvidos o mais rápido possível – e aí não se trata apenas da profissionalização de sua pré-campanha. É imperioso, se quiser vencer, que Kalil monte logo o seu time porque nesse quesito Zema já vai longe, muito longe.
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