Por Estado de Minas
O secretário de Estado da Casa Civil de Minas Gerais, Marcelo Aro (PP), voltou a criticar nessa terça-feira (5/9) – em entrevista ao Estado de Minas – o presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), o vereador Gabriel Azevedo (sem partido), um dia depois de o Legislativo abrir um processo de cassação contra o parlamentar. Aro falou sobre o Boletim de Ocorrência registrado por Gabriel Azevedo contra ele, do sorteio que colocou a sua mãe, a vereadora Professora Marli (PP), como relatora da comissão julgadora que vai examinar a cassação e disse que não firmou nenhum compromisso eleitoral para 2024.
“Eu não preciso do governo do estado e de nada da sua estrutura, nem da sua influência, para fazer um embate com o Gabriel. Gabriel é um vereador de Belo Horizonte, que se eu me dedicar 48 horas do meu dia eu deixo ele sem fazer política pelos próximos oito anos. Eu não preciso usar nenhuma estrutura e nenhuma influência maior para fazer este embate”, disse Aro.
Com 26 votos a favor, 14 abstenções e nenhum voto contra, Azevedo se tornou o primeiro presidente da história da CMBH a ser alvo de um processo de cassação. A acusação que deu origem à votação foi feita pela deputada federal Nely Aquino (Podemos), ex-presidente do Legislativo Municipal, por quebra de decoro parlamentar e abuso de autoridade.
Como recebeu as acusações feitas pelo vereador Gabriel Azevedo?
Recebi com muita tranquilidade, de quem não fez nada de errado. Ser investigado, ser fiscalizado, isto faz parte da vida de qualquer homem público. Eu já estou na vida pública há dez anos, desempenhado mandatos eletivos – fui vereador, fui deputado federal, hoje estou como secretário de Estado da Casa Civil – então, recebo com muita tranquilidade porque sei que não fiz absolutamente nada de errado.
Disse, inclusive, para as pessoas mais próximas, que se uma única linha de acusação que o Gabriel me fez fosse verídica eu mesmo largaria a vida pública. Só que quando você pega a acusação, foi uma acusação completamente vazia. Eu não tenho nem como processar ele porque no Boletim de Ocorrência fala assim: “vereadores teriam dito que Marcelo Aro e/ou pessoas ligadas a ele teriam feito…” e aí ele vai listando as coisas. Eu sou jornalista e advogado, mestre em Direito Constitucional, quem eu processo neste caso? Os vereadores? Quais? Ele não dá nome. Ele não diz que fui eu que fiz, ou seja, ele usa uma maneira de escrever que me impede inclusive de acioná-lo judicialmente. São denúncias vazias e que não dão nomes aos bois.
Como vê o fato de a sua mãe ser relatora do processo contra o Gabriel na Câmara?
Posso afirmar com toda a tranquilidade: mamãe é brava. Eu lembro que quando eu era criança, ela dava uns castigos fora da proporção razoável. Eu lembro que quando eu cometia estripulias de criança ela dava castigos de seis meses enquanto as outras mães davam castigos para os filhos de uma ou duas semanas. Então o que eu posso dizer é que minha mãe é bem brava, mas eu sou filho, não sou pai dela. Então o Gabriel vai ter que justificar para ela todas as acusações que ele responde e ela vai tomar a decisão dela.
O governador Romeu Zema disse que todas as denúncias que o presidente da Câmara faz contra o senhor devem ser investigadas. Esta situação gerou algum incômodo no governo?
Estou indo agora com o governador para a Itália. Vamos ficar 15 dias fora. Depois vamos para a Áustria e Estados Unidos. Ontem eu almocei com o governador. Então isto é uma cortina de fumaça que o Gabriel faz. O Gabriel, nós temos que ser justos: ao mesmo tempo que eu falo que ele é insignificante politicamente, que não tem a mínima condição de fazer articulação política, que é inábil, que as pessoas não gostam dele, que é arrogante, prepotente, eu também preciso registrar que o Gabriel, comunicacionalmente, ele é muito inteligente. Ele entende da comunicação e faz cortina de fumaça.
O Gabriel que precisa se justificar. Eu não preciso justificar nada. Eu sou secretário de Estado, nunca usei da estrutura do Estado para influenciar nenhum voto na Câmara Municipal. O que precisa ser discutido é: o Gabriel gravou um colega vereador dele. Isto é muito sério. Quando você me pede para gravar a entrevista e eu sei que está sendo gravado é uma coisa. É diferente quando estou em uma conversa privada. É diferente quando converso com a minha esposa, com o meu filho, meu pai, minha mãe, com um amigo, com um colega de trabalho e, de maneira clandestina, ilegal, eu gravo a pessoa. Isto é crime. Como cidadão belo-horizontino, a minha opinião é que o Gabriel tem que ser cassado porque ele cometeu inúmeras infrações e crimes que são passíveis de quebra de decoro parlamentar.
Na sua visão, esta é uma briga eleitoral?
Eu acho que isto não tem nada a ver com eleição porque eu nunca falei que sou candidato a prefeito. Se me perguntar hoje se eu sou candidato, direi que provavelmente não. Não estou trabalhando para isto, este não é meu foco. Sou secretário de Estado e o meu foco hoje é trabalhar por Minas Gerais, que foi um convite que o governador Romeu Zema me fez e que exerço com muita alegria e tento dar o meu melhor. Não sou candidato a prefeito de Belo Horizonte e sequer tenho quem apoiar para prefeito. Não tenho compromisso eleitoral de apoiar o Fuad Noman (PSD), também não tenho compromisso com o Carlos Viana (Podemos. Eu nunca fiz compromisso eleitoral para as eleições de 2024 com ninguém. E é por isso que eu não acredito que este seja um debate eleitoral. É um debate pelo que é certo, pelo correto.
Como acredita que será a votação na Câmara Municipal?
Eu acredito que o Gabriel será cassado. Pelas conversas que eu tive e as informações que chegaram, vários desses vereadores que se abstiveram na admissibilidade vão votar pela cassação. Eu não vou expor eles porque me pediram esta reserva e confidenciaram a mim: “Marcelo, eu vou votar pela cassação do Gabriel, mas quero fazer isto só no último minuto porque eu tenho medo do que o Gabriel vai fazer comigo durante este período”.
O Gabriel acusa as pessoas daquilo que ele é. Quando fala que eu estou ameaçando e coagindo vereadores e que ele precisa de proteção, ele está me acusando daquilo que ele é e faz. Ele coage e manipula os vereadores. Ele ameaça as pessoas e começa a achar que todo mundo joga o jogo dele, mas o Gabriel precisa entender que eu sou diferente do que ele. O Gabriel precisa entender que a minha régua é diferente da dele. Eu sou secretário de Estado, já passei pela Câmara Municipal lá no início da minha carreira.
Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press