Por CNN
O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador da Universidade de Jerusalém Michel Gherman relembrou, em entrevista à CNN no sábado (7), o início do conflito entre Israel e Palestina, que têm origem mais recente na virada do século 19 para o século 20.
“O conflito palestino-israelense pode ser vinculado ao início da imigração judaica-palestina, que começa com o projeto de formação do estado judeu na Palestina ainda como referência, como horizonte de possibilidade. Começam a construir, no final do século 19 e início do século 20, colônias e uma estrutura própria estatal que tem como elemento fundamental a fuga do antissemitismo na Europa e a possibilidade de construção de um discurso nacional”, explicou Gherman.
Segundo o professor, o conflito se acentua ainda nos anos 1920, quando o Movimento Nacional Palestino, que também estava nascendo, passou a tratar os judeus que chegavam às colônias na Palestina como inimigos, e ganha nova escala na década seguinte.
Os anos 1930, conforme lembra Gherman, são marcados pelo antissemitismo pautado pelo surgimento e o fortalecimento do nazismo na Europa, sobretudo na Alemanha e na Áustria.
“Neste momento, algumas lideranças palestinas começam a apoiar Hitler, e os judeus começam a chegar em massa na Palestina”, afirmou.
Passada a Segunda Guerra e derrotado o nazismo, a Organização das Nações Unidas, que havia acabado de nascer, propõe uma partilha do território palestino que pauta a criação do Estado de Israel.
Como explica o professor da UFRJ, a iniciativa é apoiada tanto pela União Soviética, quanto pelos Estados Unidos, e acaba engatilhando uma guerra civil entre israelense e palestinos.
“O Estado de Israel consegue ganhar essa guerra, se estabelece um estado judaico na Palestina e não se estabelece, naquele momento, o estado árabe na Palestina. Esse estado árabe que não surge acaba sendo o elemento fundamental de tensionamento”, defende Gherman.
Em 1967, como produto dessa tensão, na Guerra dos Seis Dias, Israel invade os territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, que estão ocupados até hoje.
Segundo o pesquisador, essa invasão promove o desenvolvimento de uma ideia de cidadania desigual, em que judeus são cidadãos, e os árabes e palestinos, não.
“Nesse território da Cisjordânia e de Gaza começam a se formar colônias formadas por grupos religiosos messiânicos de extrema-direita que começam a dificultar qualquer tipo de saída dos israelenses desses territórios, o que aumenta a opressão aos palestinos nesses locais”, explica.
Gherman diz que esses líderes que hoje ocupam o poder nos territórios palestinos acentuaram ainda mais a tensão e colocaram em risco não só os palestinos, como também a sociedade israelense.
O confronto
O Exército israelense e as forças do Hamas iniciaram neste domingo o segundo dia de confrontos depois que o grupo extremista lançou um ataque surpresa a Israel, no sábado (7).
Mais de 650 pessoas foram mortas no dia mais mortal de violência em Israel em 50 anos.
A maior incursão em Israel em décadas poderá minar os esforços apoiados pelos EUA para forjar alinhamentos de segurança regionais que poderão ameaçar as aspirações palestinas à criação de um Estado e as ambições do principal apoiante do grupo, o Irã.
Os combatentes do Hamas começaram o ataque na madrugada de sábado com uma enorme barragem de foguetes contra o sul de Israel, dando cobertura a uma infiltração multifacetada e sem precedentes de combatentes em Israel a partir de Gaza, uma faixa estreita que abriga 2,3 milhões de palestinos.
Os combatentes do Hamas mataram pelo menos 250 israelenses em confrontos durante o dia e escaparam de volta para Gaza com dezenas de reféns. Mais de 230 habitantes de Gaza foram mortos quando Israel respondeu com um dos seus dias mais devastadores de contra-ataques.
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