Terminou mais um Ranking Cúpula da Cachaça. Nessa terceira edição, o maior concurso de cachaças do país – e, por extensão, do mundo – se transformou, sem que isso tivesse sido planejado numa celebração da crescente diversidade do mercado do destilado nacional brasileiro. Confira os resultados logo abaixo.
Entre as sete primeiras colocadas nas brancas, temos uma capixaba, uma pernambucana, uma paraibana, uma fluminense, uma paulista e duas mineiras. Entre as cinco primeiras na categoria Ouro, o fenômeno se repete: uma mineira, uma fluminense, uma paranaense, uma paulista e uma gaúcha.
A terceira fase do concurso é uma degustação às cegas, sem a mínima possibilidade de obtenção de um resultado “politicamente correto”, feito para agradar a gregos e baianos.
Prova disso é que, em versões anteriores do Ranking, a Cúpula recebeu críticas de “puristas” pouco versados em questões de mercado por ter premiado com posições honrosas (boas) cachaças de marcas industriais (Ypióca e 51), naquelas surpresas que tornam esses concursos mais divertidos e polêmicos.
A primeira fase do Ranking, que começa com as cerca de 4 mil cachaças registradas no Ministério da Agricultura, faz um grande filtro do qual saem 250 rótulos que realmente são os mais relevantes no mercado – com uma ou outra variável comandada pela teoria do caos. Ou seja, cachaças que tem consumidores, de fato.
Para uma cachaça sobreviver ao filtro da primeira fase, ela precisa de pouca coisa: com algumas dezenas de devotos que tenham se prestado a votar nela, ela garantiu um lugar na segunda fase. Os rótulos que não conseguiram atingir essa meta não deveriam duvidar de sua qualidade, mas, com certeza, deveriam reavaliar como anda a sua relação com seu cliente final, o consumidor de cachaça – esse ser mais raro do que a gente gosta de imaginar que ele seja.
A segunda fase é aquela em que os trabalhadores da cachaça – nesse ano, 39 deles, que se juntaram a oito dos 12 cúpulos – definem, entre a escolha dos consumidores, quais são as melhores, ou mais relevantes, cachaças do momento.
Aos cúpulos sobra a tarefa de ranqueá-las. Uma tarefa menos relevante, no sentido de que passar pelas duas fases e se inscrever no grupo das 50 finalistas já é um feito capaz de alavancar o prestígio e os negócios de todos os rótulos que o alcançam.
E o mercado definiu, por meio do ranking, que a produção de cachaças top de linha se espalhou definitivamente, ocupando desde o Rio Grande do Sul (com as várias Weber Haus, entre outras) até o Pará (com a estreante Indiazinha). Houve representantes de 12 estados e do Distrito Federal entre as finalistas do III Ranking. Quatro anos atrás, no I, havia apenas sete!
Outra definição: o carvalho ainda é o rei. Sete das dez cachaças com melhor nota do ranking passam por essa madeira. O que explica? Na prática, a quase totalidade das cachaças ultra premium do mercado, aquelas que recebem maior atenção e investimento de seus produtores, têm o carvalho na sua composição.
E vamos combinar: se essa madeira não fosse boa de serviço, ela não seria usada por todos os principais destilados do planeta, com exclusividade, sendo a cachaça a exceção, com sua ampla diversidade. O fato é que quatro em cada dez cachaças que são envelhecidas passam por carvalho. O produtor, claro, faz essa opção por exigência do seu consumidor.
“Houve uma queda drástica na quantidade de cachaças oferecidas nesta madeira (carvalho), 34% nesta terceira edição contra 62% na edição de 2016”. O levantamento é do cúpulo Maurício Maia, outro entusiasta das branquinhas.
Resultados do III Ranking Cúpula da Cachaça
Brancas
1. Princesa Isabel Aquarela (3 anos em Jequitibá ) – Linhares (ES) – 82,7
2. Sanhaçu Freijó (2 anos) – Chã Grande (PE) – 76
3. Tiê Prata (inox) – Aiuruoca (MG) – 74
4. Século XVIII Rótulo Azul (Inox) – Cel. Xavier Chaves (MG) – 72,9
5. Volúpia (1 ano em freijó) – Alagoa Grande (PB) – 72,23
6. Engenho São Luiz Amendoim (seis meses em amendoim) – Lençóis Paulista (SP) – 72,17
7. Reserva do Nosco Prata (inox) – Resende (RJ) – 70,8
8. Serra Limpa (6 meses em freijó) – Duas Estradas (PB) – 70,5
9. Coqueiro Prata (2 anos em amendoim) – Paraty (RJ) – 68,2
10. Da Quinta Branca (inox) – Carmo (RJ) – 67,9
11. Caraçuípe Prata (6 meses no jequitibá) – Campo Alegre (AL) – 67,7
12. Nobre (inox) – Sobrado (PB) – 66,5
13. Engenho Pequeno (2 anos no jequitibá rosa) – Pirassununga (SP) – 65,7
14. Sebastiana Cristal (3 meses em inox) – Américo Brasiliense (SP) – 61,7
Ouro
1 – Vale Verde 12 anos (carvalho) – Betim (MG) – 88,4
2 – Magnífica Reserva Soleira (carvalho, entre 3 e 10 anos) – Vassouras (RJ) – 87,9
3 – Companheira Extra Premium (8 anos em carvalho) – Jandaia do Sul (PR) – 87,3
4 – Sebastiana Carvalho (3 anos em carvalho) – Américo Brasiliense (SP) – 85,6
5 – Weber Haus Extra Premium Lt. 48 (5 anos em carvalho) – Ivoti (RS) – 85,5
6 – Weber Haus Amburana (1 ano em umburana) – Ivoti (RS) – 85,2
7 – Casa Bucco Envelhecida (6 anos em carvalho e bálsamo) B. Gonçalves (RS) – 84,5
8 – Leandro Batista (1 ano em canela, bálsamo e sassafrás) Ivoti (RS) – 84,2
9 – Middas Reserva (2 anos em carv. francês, americano e amburana) – Adamantina- SP – 84,1
10 – Canarinha (2 anos em bálsamo) – Salinas (MG) – 83,9
11 – Werneck Safira Régia (4 a 5 anos no carvalho) – Rio das Flores (RJ) – 83,5
12 – Weber Haus Premium 7 Madeiras (2 anos em carvalho francês, carvalho americano, bálsamo, cabriúva, amburana, grápia, canela sassafrás) – Ivoti (RS) – 83,3
13 – Engenho São Luiz Extra Premium (3 meses em carvalho) – Lençóis Paulista (SP) – 82,6
14 – Authoral Gold (carvalho, francês, bálsamo e cerejeira) – Brasília (DF) – 82,1
15 – Cedro do Líbano (1 ano no carvalho americano) – São Gonçalo do Amarante-CE – 81,3
16 – Werneck Ouro (2 anos em carvalho) – Rio das Flores (RJ) – 81
17 – Anísio Santiago/Havana (8 anos no bálsamo) – Salinas (MG) – 80,9
18 – Tabúa Flor de Ouro Exportação (5 anos no bálsamo) – Taiobeiras (MG) – 79,4
19 – Indiazinha Flecha de Ouro (amburana e castanheira) – Abaetetuba (PA) – 79,3
20 – Princesa Isabel Jaqueira – Linhares (ES) – 78,2
21 – Claudionor (1 ano em umburana) – Januária (MG) – 77,9
22 – Da Tulha Ouro (3 anos em carvalho) – Mococa (SP) – 76,8
23 – Da Quinta Amburana (1 ano em amburana) – Carmo (RJ) – 76,2
24 – Santo Grau Solera PX (carvalho usado em vinho jerez) – Itirapuã (SP) – 76,1
25 – Sanhaçu Umburana (2 anos) – Chã Grande (PE) – 76
26 – Pardin 3 Madeiras (carvalho, amburana e jequitibá) – Camanducaia (MG) – 75,2* (desempate pela maior nota no critério ‘gustativo’)
27 – Porto Morretes Premium (3 anos em carvalho) – Morretes (PR) – 75,2*
28 – Leblon (6 meses em carvalho) – Patos de Minas (MG) – 74,6
29 – Havaninha (6 anos em bálsamo) – Salinas (MG) – 73,7
30 – Colombina 10 anos (jatobá) – Alvinópolis (MG) – 72,8
31 – Magnífica Envelhecida (2 anos no carvalho) – Vassouras (RJ) – 72,3
32 – Matriarca Ouro Jaqueira (2 anos) – Caravelas (BA) – 69,7
33 – Santo Grau Solera Cinco Botas (carvalho utilizado em vinho Jerez) – Itirapuã (SP) – 69,1
34 – Santo Grau Itirapuã (carvalho e jequitibá) – Itirapuã (SP) – 68,8
35 – Sebastiana Castanheira (1 ano) – Américo Brasiliense (SP) – 67,6
36 – Saliníssima (2 anos em Bálsamo) – Salinas (MG) – 64
Com informações do site Devotos da Cachaça
Foto: Mateus Verzola