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A Marinha de Tamandaré em Minas Gerais Resgatar e recuperar o vapor Benjamim Guimarães é restaurar, dignificar e homenagear o Centenário da presença da Marinha em MG, que se avizinha para o ano de 2025.

11 de abril de 2024, 13h02 | Por Letícia Horsth

by Letícia Horsth

Paulo Roberto Cardoso* Às margens do Velho Chico, na cidade de Pirapora, na margem direita da zona do Alto Médio São Francisco, um pequeno marco registra a passagem, por aquelas plagas, de nossa imortal Rachel de Queiroz. O registro é de uma curiosa fala dela, ao deparar-se, certa tarde, em que caminhava pelas margens do rio, com um jovem fuzileiro naval. Perplexa, indagou-lhe o que fazia ali, perdido na Pirapora, porto de chegada de tantos que desembarcaram em Minas Gerais por aquele porto: alguns seguindo viagem pela ferrovia, outros tantos se amineirando, alguns alcançando até mesmo o Palácio da Liberdade. Mas então, diante da perplexidade de nossa Rachelzinha, o jovem fuzileiro naval a informou de que servia ali na histórica Capitania Fluvial de Pirapora, hoje Delegacia Fluvial de Pirapora. Diante daquela surpreendente revelação, a nossa celebrada imortal proclamou para as gerações futuras: “Fuzileiro naval é bicho de toda a água”.

Tal rememoração vem a propósito do centenário da presença da Marinha em terras mineiras, não obstante a jocosa e desinformada pilhéria de que “Minas não tem mar, mas tem bar”. Pilhéria desinformada e desinformadora, pois aí está o mar de Minas, em Furnas, contendo em si algumas baías da Guanabara em extensão e volume de água; banhando tantos municípios, gerando emprego, trabalho e renda por meio das mais diversas atividades como turismo, esportes náuticos, piscicultura e tantas outras, mas a desinformação e a ignorância em relação a história são sempre danosas.

Afinal, nunca é por demais lembrar que, na história de amor de Minas Gerais com a Marinha de Tamandaré, avulta a figura do estadista Raul Soares de Moura, único ministro civil da Marinha na História Republicana.

Aliás, é de registrar-se que, ao aproximar-se o centenário da presença da Marinha em Minas Gerais, o historiador CMG Sílvio Aderne, qualificado oficial Fuzileiro Naval, tem, incansavelmente, se dedicado às pesquisas históricas sobre a relação de Minas Gerais e a nossa Marinha, com as quais, muito em breve, enriquecerá sobremaneira a historiografia mineira e brasileira

É de ressaltar-se que o Comandante da nossa invicta Marinha, para além das águas azuis do Oceano Atlântico, é igualmente autoridade em relação às águas interiores. Atento a esta peculiaridade, o lúcido grande chefe naval, Almirante de Esquadra, Leal Bacelar Ferreira, amigo de Minas e dos mineiros, com as suas sólidas raízes paternas fincadas na Zona da Mata Mineira, cuidou, de forma corajosa, de trazer a Marinha do Brasil, em Minas Gerais – até aquela data confinada e invisível aos olhos da maioria dos mineiros, visto que, voltada para Salvador na Bahia – para a capital dos mineiros, com a criação da Capitania Fluvial de Minas Gerais, dando-lhe a justa e merecida visibilidade aos olhos generosos e carinhosos dos mineiros em relação à minha, a sua, a nossa Marinha do Brasil.

Sensível e atento ao presente e ao futuro, a um só tempo, o grande Chefe Naval assinalou durante a instalação, ainda sob seu comando, da Capitania Fluvial de Minas Gerais, em Belo Horizonte, ser “Minas Gerais a Caixa D’água do Brasil”, conhecedor e atento ao fato de que de nossas bacias hidrográficas nascem pequenos rios que se tornam caudalosos e correm para o mar, contribuindo desta forma com a integração nacional.

Minas Gerais, por intermédio de um dos seus filhos ilustres, o amado JK, quando na Presidência da República, dotou nossa esquadra do seu primeiro Porta-Aviões. Torçamos, pois, que outros meios de igual importância sejam, com o tempo, agregados aos arrojados projetos estratégicos da MB, a exemplo do PROSUB, dos projetos da área Nuclear, das Fragatas e Corvetas, além da anunciada retomada da Indústria Naval e Minas possa, com seu coração de ouro em um peito de aço, conectar sua siderurgia, metalurgia, sua riqueza mineral e, sobretudo, seu peso político para ao lado da MB, assegurar um desenvolvimento que realize nosso destino geoestratégico de uma potência Naval.

De destacar-se que já hoje assistimos à maior e mais expressiva presença de jovens mineiros ingressando na MB, sobretudo, atraídos por seu qualificado, respeitado e prestigioso sistema de ensino.

Ainda sobre a Marinha em Minas Gerais deve-se lembrar, e registrar-se, que, em estado de abandono, encontra-se em Pirapora, no Rio São Francisco, o velho vapor Benjamim Guimarães. Este vapor, que, aos nossos olhos, significa para as águas interiores o mesmo que o lendário veleiro Cisne Branco representa para as águas azuis. É um símbolo caro à mineiridade, visto que, ao longo de décadas transportou sonhos, esperanças e decepções de gerações de anônimos brasileiros em seu ir e vir, movidos pela energia impulsionada pelas duras e severas condições adversas da vida. O Benjamim Guimarães, o Cisne Branco das águas interiores, simbolizava a possibilidade real do além das brumas nebulosas rumo ao cais de todos os sonhos e esperanças de uma vida menos árida e sofrida.

Não nos é mais, portanto, permitido fazermos vistas grossas ou ignorarmos o estado calamitoso em que se encontra este símbolo histórico, que significou, em longo trecho de nossa história, um vínculo entre o Norte do Brasil e a sua região Sudeste. Resgatar e recuperar o vapor Benjamim Guimarães é restaurar, dignificar e homenagear o Centenário da presença da Marinha que se avizinha para o ano de 2025.

*Presidente da SOAMAR-MG
Fonte: diariodeminas.
Foto: Nilton Antunes Figueira.

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