Home Economia Dívidas de R$ 1,1 bilhão forçam a tradicional Coteminas a apresentar pedido de recuperação judicial

Dívidas de R$ 1,1 bilhão forçam a tradicional Coteminas a apresentar pedido de recuperação judicial A empresa teve prejuízo de R$ 759 milhões no ano passado.

9 de maio de 2024, 23h56 | Por Letícia Horsth

by Letícia Horsth

Dificuldades financeiras, peso dos juros e queda nas vendas devido ao aumento do endividamento dos consumidores contribuíram para a recuperação judicial- Taxas de juros elevadíssimas fizeram mais uma vítima na economia brasileira: a tradicional empresa mineira Coteminas, que pertence ao empresário Josué Gomes da Silva, atual presidente da FIESP-Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e filho do ex-vice-presidente da República José Alencar Gomes da Silva, apresentou na segunda-feira – dia 6 de maio, pedido de recuperação judicial. De acordo com informações fornecidas pela empresa, a Justiça já deferiu, em tutela de urgência, a suspensão de cobranças de dívidas do grupo empresarial, que atua no setor têxtil.

A Coteminas é mais uma empresa nacional a entrar em recuperação judicial. Localizada em Montes Claros (Norte do Estado) e a medida objetiva tentar preservar as atividades e os ativos do grupo. O segmento têxtil vem sendo sacrificado com a entrada de produtos importados que chegam ao País com custos reduzidos e sem os encargos que são cobrados para a manutenção dos negócios no Brasil. Porém, a situação não é novidade, pois a empresa vinha tentando, ao longo do ano anterior, reestruturar as dívidas e oferecer viabilidade para os credores.

A indústria têxtil no Brasil vem enfrentando dificuldade há alguns anos, desde o momento que a China começou a inundar o mercado com produtos considerados baratos para o mercado local. A entrada de um grande volume de produtos chineses foi o fator que mais impactou na atividade empresarial da Coteminas. Afinal de contas, os produtos chegam ao País por um preço que não tem como a indústria têxtil suportar”, afirmam especialistas da área. Para se manter em atividade, uma indústria precisa registrar os trabalhadores, têm regras ambientais para cumprir e os impostos para pagar, enquanto os produtos têxteis que chegam ao País, além de virem com preços muito baixos, não precisam arcar com todas essas despesas. “Por isso é muito difícil concorrer com os produtos importados. A Coteminas tomou uma medida esperada, pois chegou a um momento que, para se reestruturar, é a alternativa mais viável que existe para a ocasião.

De acordo com a empresa, as vendas caíram por anos, o grupo alavancou-se mais (a alta dos juros após 2021 pesou mais nessa linha) e a companhia não conseguiu recuperar o desempenho, mesmo após a boa fase do setor, quando a demanda por produtos para casa disparou entre 2020 e 2021. A receita bruta das empresas do grupo foi reduzida de R$ 3 bilhões em 2021 para R$ 1 bilhão em 2023.

De agora em diante, a empresa terá 180 dias para negociar com os credores as condições de pagamento, para que no momento da assembleia, o plano de recuperação seja aprovado. Para o deputado estadual Arlen Santiago (Avante), que tem base na região Norte do Estado, a notícia sobre a recuperação judicial da Coteminas foi recebida com certa tristeza. “Um patrimônio que já foi controlado pelo ex-vice-presidente do Brasil, José Alencar Gomes da Silva, e hoje está nas mãos do filho, que é presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, enfrentando um percalço como este, só comprova que o Brasil não está sendo um local fácil para sobreviver. Ainda mais agora com a questão do substancial aumento da carga tributária sobre os empregos, a reoneração da folha”, salientou.

Um ponto levantado pelo deputado é que, além da questão das dívidas da empresa, ainda existem a situação dos funcionários. “Um império que não consegue manter a consolidação. É triste de ver isso, mas esperamos que a recuperação judicial possa reverter o cenário. Não conheço a fundo a situação financeira da empresa, mas há um tempo tentei junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) uma linha de crédito para tentar ajudar a empresa e manter os postos de trabalho. Agora, vou ficar ao lado dos funcionários para que eles não sejam prejudicados”, afirmou o parlamentar.

No fato relevante encaminhado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a companhia não informa onde foi feito o pedido ou o nome do juiz ou juíza que aceitou parcialmente sua requisição. Também não diz qual o total de dívidas a serem renegociadas com a intermediação do Judiciário.

O extrato da decisão incluído no comunicado determina a suspensão de todas as ações e execuções contra a Coteminas e as demais empresas do grupo – o documento cita nominalmente apenas a Ammo Varejo, que vende as marcas Santista, Artexz e Mmartan, mas o grupo inclui a Santanense e a Springs Global (companhia-mãe, que combina a Coteminas com a americana Spring US).

A Coteminas diz que um fundo de investimentos notificou as empresas do grupo do vencimento antecipado de debêntures emitidos pela Ammo Varejo em maio de 2022, e a transferência de ações por valor irrisório.

Segundo o comunicado, a companhia têxtil contranotificou o fundo porque não estaria configurado o vencimento antecipado de dívidas.

Grupo havia fechado parceria com a Shein

No ano passado, o grupo fechou uma parceria com a chinesa Shein para produzir vestuário no Brasil. Logo depois a rede global de fast fashion emprestou US$ 20 milhões para a Santanense, que tem fábrica em Itaúna, na região Centro-Oeste do Estado, e faz parte da Coteminas. O empréstimo visa recompor o capital de giro da companhia e é conversível em ações. O vencimento da dívida está previsto para junho de 2026 e prevê o pagamento de juros anuais, conforme informações divulgadas na época. (Fonte: Fernanda Brigatti/Folhapress, Valor, O Estado de SPaulo e Diário do Comércio).

Pela lista geral de recuperações após 2023, a Coteminas está entre as cinco maiores dos últimos dois anos, superando a rede Dia e a SouthRock (Subway e Starbucks).

Com informações do mercadocomum.
Foto: Reprodução.

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