Por Mauro Werkema
Os meios jornalísticos e da cultura mineira perderam hoje uma das mais expressivas e queridas figuras humanas. Aos 93 anos, deixou-nos o jornalista, escritor e editor José Maria Rabelo, referência humana e ética para toda a imprensa mineira, por sua fértil e exemplar vida. E que deixa na memória de seus inúmeros amigos, por seu rico histórico de vida, de realizações e exemplos, a lembrança de um ser humano raro, convivente e solidário, que desempenhou missões que lhe conferem o respeito, a admiração, a amizade e o reconhecimento de todos que com ele conviveram mesmo nos momentos mais dramáticos de sua vida excepcional.
José Maria nasceu em 1928 em Campos Gerais Sul de Minas mas ainda jovem transferiu-se para Belo Horizonte. Iniciou sua vida jornalística no antigo Informador Comercial, hoje Diário do comércio. Em 1952 fundou o semanário Binômio, um dos precursores da imprensa alternativa no Brasil, com grande repercussão na época. Suas 801 edições estão digitalizadas e encontram-se na Biblioteca da UFMG. A redação do jornal foi invadida e destruída, em 1964, por ação de militares do Exército e da Aeronáutica, determinada pelo general João Punaro Blay, então comandante da Brigada Militar de Belo Horizonte, ofendido por matéria que expunha sua controversa atuação no Espírito Santo. O episódio obrigou José Maria, com sete filhos menores, em 1964, a exilar-se durante a ditadura militar, sucessivamente na Bolívia, no Chile e na França. No primeiro país, desenvolveu atividades jornalísticas, atuando em jornais de La Paz. No chile abriu e dirigiu La Librería de las Ciencias Sociales que, com seus seis endereços, ganhou expressão em Santiago.
Na França, em Paris, ao lado de Mário Soares, também exilado e depois presidente de Portugal, organizou e dirigiu La Librairie Portugaise et Brésilienne, transformada posteriormente em La Librairie-Centre de Pays de Langue Espagnole et Portugaise, polo de referência e divulgação cultural daqueles países, no coração da capital francesa. Passou 16 anos no exterior.
Em seu retorno, em fins de 1979, assumiu no Rio a direção do semanário “Pasquim” e da revista “Cadernos do Terceiro Mundo”. Presidiu o PDT, Partido Democrático Trabalhista, em Minas, durante 18 anos e integrou sua direção nacional. Foi vice-presidente do Banerj – Banco do Estado do Rio de Janeiro, nos dois governos de Leonel Brizola. Em Belo Horizonte, criou as editoras “Passado & Presente” e “Barlavento Grupo Editorial”. Colaborou com artigos nos principais órgãos da imprensa do Estado e manteve por vários anos uma coluna no jornal alternativo carioca “Bafafá”, sempre com a crítica independente e corajosas do regime militar brasileiro.
É autor dos livros “Binômio – O jornal que virou Minas de cabeça para baixo”, “Diáspora – Os longos caminho do exílio”, “Residência Provisória (poemas)”, “Belo Horizonte – Do arraial à metrópole – 300 anos de história, Cores e Luzes de Belo Horizonte” com fotografias de seu filho Fernando Rabelo, e “História Geral de Minas”, em co-autoria com João Antônio de Paula, Fernando Correia Dias, Ricardo de Moura Faria e texto especial de Guimarães Rosa sobre os mineiros. Nos últimos anos, mesmo em idade avançada, mantinha-se presente na vida cultural e jornalística mineira, sempre atento aos fatos políticos e econômicos brasileiros. Foi diretor da Casa do Jornalista e sempre participante das discussões.
José Maria será velado no Sindicato e na Casa do Jornalista a partir das 14h. O corpo será cremado.