Por Metrópoles
O Ministério Público Federal (MPF) abriu dois inquéritos para investigar o apoio de siderúrgias mineiras à repressão na ditadura militar. Os alvos de apuração são as companhias Belgo Mineira, do grupo ArcellorMittal, e Mannesmann, comprada pela Vallourec.
As empresas são suspeitas de violar direitos humanos em colaboração a órgãos estatais durante o período. A investigação tem base no relatório final dos trabalhos da Comissão da Verdade em Minas Gerais.
O documento indica que as siderúrgicas apoiaram “política e financeiramente” o golpe de 1964. Conforme o relatório, a Belgo Mineira e a Mannesmann chegaram a colaborar ativamente “com a repressão política exercida contra os seus próprios trabalhadores”, em especial os do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de João Monlevade.
Uso de metralhadoras
O relatório aponta que, durante o regime militar, a empresa Belgo Mineira “demitiu, de forma coercitiva, cerca de 74 operários acusados de serem agitadores, embora todos eles, contratados em regime da CLT, tivessem estabilidade de emprego”. Ainda segundo o texto, os servidores eram forçados a assinar rescisões contratuais sob a mira de metralhadoras e sofrendo humilhações.
Já na Mannesmann, extinta em 2001, o documento destaca que funcionários foram aprisionados, dentro da própria empresa, “pelo Ten. Schmitz e Pol. Gustavo, da Patrulha Volante” por serem qualificados como “líderes agitadores”. O caso foi constatado em boletim de ocorrência.
Fiat investigada
A Fiat vem sido investigada pelo MPF por motivos semelhantes há cerca de três anos. Segundo a Comissão Nacional da Verdade, o grupo de automóveis colaborou com o sistema do governo militar em troca de informações sobre o movimento sindical.
O MPF, agora, busca provas materiais sobre essa colaboração para identificar os responsáveis e vítimas. Algumas informações já foram obtidas, entre elas o conhecimento sobre facilidades econômicas e fiscais na implementação da empresa no país, a existência de militares na segurança da empresa e um sistema de vigilância para encobrir as práticas políticas dos empregados.
Foto: Acervo/Estadão