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Mudou o patamar O foco não é mais 2022. A data é 2021. Tanta gente na rua não aponta para 2022. A agenda e a ofensiva política popular têm que avançar sobre o terreno do Centrão.

20 de junho de 2021, 16h57 | Por Redação ★ Blog do Lindenberg

by Redação ★ Blog do Lindenberg
  • As manifestações gigantes de ontem (em número de pessoas e de cidades mobilizadas) alteraram a configuração do embate entre forças populares (nada de republicanismos por aqui) e a extrema-direita.

    Por Rudá Ricci

    Foram registrados 427 atos realizados no Brasil e em 17 países no exterior. Estima-se que ontem foram 750 mil pessoas às ruas contra Bolsonaro e sua agenda genocida. A grande imprensa não consegue – como ocorreu na Campanha das Diretas – esconder a pujança das mobilizações.

    Atingimos 500 mil mortes causadas pela orientação para a contaminação do rebanho de brasileiros, pela indicação de uso irresponsável de remédios para outros fins que o combate à vírus (vírus não é protozoário!).

    Os crimes de responsabilidade se amontoam. Ele já teve seu tempo de brincar de governante. Já brincou com emas e fingiu estar perdendo fôlego, reproduzindo a agonia dos que tentaram internação por não conseguir mais respirar. Talvez, finalmente, parcelas maiores da população de nosso país tenham chegado ao basta.

    Agora, a mudança de patamar de embate exige nova postura das entidades que lideram as manifestações. Farei algumas ponderações a respeito. Começo com a data. O foco não é mais 2022, por mais que Lula e lulistas queiram. A data é 2021. Tanta gente na rua não aponta para 2022.

    Outra necessidade é que a liderança das mobilizações ganhe um rosto. É preciso ganharmos uma referência que, como afirmei, não se limite a 2022. É preciso ter interlocutor neste embate cada vez mais tenso. Não podemos repetir a invisibilidade da condução que ocorreu em 2013.

    Todos que me acompanham sabem o quanto eu sugiro que 2013 foi um momento especial da política no Brasil, inaugurando o século XXI por aqui. Nada a ver com o discurso fácil que 2013 tinha relação com a extrema-direita. Fiz pesquisa de campo para fundamentar minha leitura. Contudo, o maior erro político cometido em 2013 foi o tal “sem liderança”.

    Trabalhadores da área da saúde também foram às ruas no sábado, em Belo Horizonte – Foto de Hedy

    O discurso juvenil (ou principista no caso dos anarquistas e autonomistas) levou ao paroxismo de se negarem a negociar como bloco. Quando se sentaram numa mesa, diziam que só se representavam. Na prática, a agenda se perdeu. Nem mesmo se apresentou como múltipla. Ela simplesmente desapareceu. E deu lugar à disputa das interpretações. A grande imprensa saiu correndo dizendo que a pauta era a corrupção e o papel do MP. O Anonymous apresentou pauta. A esquerda.

    Era o momento mais importante para uma reviravolta na política nacional. Mas, a Torre de Babel era de tal monta que os governos, acuados, não sabiam o que e com quem negociar. Dilma tentou – na verdade, o então ministro Gilberto Carvalho – e deu com os burros n´água. Não podemos repetir o erro.

    Para que as manifestações precisam de um rosto? Para apresentar uma agenda e pressionar os congressistas. Agora é preciso ter uma coordenação política que esteja à altura desse novo patamar político que se ganhou ontem. As ruas estão além do impacto da CPI.

    Ligando os pontos: 1) A luta política contra a extrema-direita não aponta para 2022, mas para uma ofensiva para agora; 2) Para tanto, é preciso que as mobilizações e ofensiva ganhem um rosto, o coletivo de 600 entidades que lideraram as manifestações de 29M e 19J; 3) Finalmente, a apresentação de uma agenda do presente e do futuro.

    Povo na rua, em Belo Horizonte, contra o presidente Jair Bolsonaro – Foto de Isis Medeiros

    A agenda e a ofensiva política popular têm que avançar sobre o terreno do Centrão. A agenda nacional econômica não está nas mãos de Paulo Guedes, mas do Centrão; a parca estabilidade do governo está nas mãos do Centrão. O Centrão é o alvo. É a peça que gera o efeito dominó.
    Portanto, seria fundamental que cards e cartazes denunciando a posição dos parlamentares que dão sustentação à agenda de destruição do Brasil e de aumento da precariedade social se espalhassem pelo país. Somente assim, as manifestações poderão se tornar ameaça. Somente assim, os parlamentares perceberão que estão sendo acompanhados em seu voto e que suas bases eleitorais começam a ligá-los com o governo e seu sofrimento. Enfim, o patamar de embate político foi alterado.

    Termino este breve texto externando minhas saudades e tristeza pela morte de Eugênio Peixoto, que nos deixou ontem. Um militante extraordinário, ex-Secretário de Reordenamento Agrário do MDA e um dos coordenadores da Câmara Técnica da Agricultura Familiar do Consórcio Nordeste. Antes de tudo, um imenso coração. Mais um grande amigo que perco nesse fatídico 2021.

    Fonte (jornalista livres, Ricci Ruda
    Obs. A foto principal é de Ricardo Stuckert

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