Por Hoje em Dia/Blog do Lindenberg – blogdolindenberg@hojeemdia.com.br
Neste domingo completam-se oito dias do desaparecimento, absolutamente suspeito, do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno da Cunha, servidor licenciado da Funai. As informações sobre os dois são confusas, quando não contraditórias. Um suspeito está preso e a Polícia Federal pede a prisão cautelar de Amarildo da Costa Oliveira, que tem um histórico de desavenças com os índios e uma possível relação estreita com os garimpeiros que infestam a Amazônia.
O jornalista e o indigenista saíram para um trajeto relativamente curto, que terminaria no município amazônico de Atalaia do Norte, percorrendo uma região em que o britânico estaria pesquisando para concluir um livro que vem escrevendo sobre essa relação indígenas/garimpeiros e posseiros.
Ontem, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso deu um prazo à Polícia Federal para que faça um relatório sigiloso em até cinco dias contendo todas as providências adotadas e informações que possam ter sido obtidas sobre o estranho desaparecimento. Antes da providência do STF, o Alto Comissário da Organização das Nações Unidas (ONU) para os direitos humanos pediu ao governo brasileiro que “redobre” os recursos e os esforços nas operações de busca. No rastro desse desaparecimento, exatamente na hora em que o presidente da República participa da Cúpula das Américas, nos Estados Unidos, há notícias de que manchas de sangue teriam sido encontradas numa embarcação que seguia o jornalista britânico e o indigenista brasileiro. Há notícias também de uma estranha remoção de terra e barrancos no trajeto em que os dois teriam desaparecido.
Na última sexta-feira, o presidente Bolsonaro mencionou o caso em discurso na Cúpula das Américas. O presidente disse que “desde o último domingo, quando tivemos informação de que dois cidadãos – um britânico e outro brasileiro – desapareceram na região do Vale do Javari, desde o primeiro momento, naquele mesmo domingo, nossas Forças Armadas e a Polícia Federal têm se destacado na busca incansável da localização dessas pessoas. Pedimos a Deus que sejam encontrados com vida”, disse Jair Bolsonaro. A ONU acha, no entanto, que os esforços são modestos, como observa Ravina Shamdasani, do comitê da ONU, que considera que o governo brasileiro demorou a iniciar as buscas. Daí a entrada em cena do ministro Barroso, por solicitação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
De qualquer forma, o desaparecimento do jornalista britânico e do indigenista brasileiro não deixa de ser, digamos, um desconforto para o presidente Jair Bolsonaro, ainda mais agora que ele participa da Cúpula das Américas, sabido que ele tem sistematicamente feito oposição à demarcação das terras indígenas, achando até mesmo que a área demarcada do território Yanomami é um excesso, como se não soubesse que o índio brasileiro vive da pesca, da caça e de uma agricultura de subsistência. O presidente Bolsonaro, no entanto, conseguiu o que ele queria: um encontro bilateral com o presidente Joe Biden, a quem, aliás, demorou quase um ano a cumprimentar pela vitória, até porque o candidato da preferência do presidente brasileiro não era Biden, mas Donald Trump.
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