Home São Paulo Ordem de Tarcísio é para matar: vejam como esse homem foi executado

Ordem de Tarcísio é para matar: vejam como esse homem foi executado Cleiton Barbosa Moura, de 24 anos, morreu durante operação da polícia em resposta à morte de um PM da Rota em Guarujá (SP). Família fala em execução e inocência do homem.

1 de agosto de 2023, 14h15 | Por Redação ★ Blog do Lindenberg

by Redação ★ Blog do Lindenberg

Por G1

A esposa de Cleiton Barbosa Moura, uma das pessoas mortas durante a operação policial em Guarujá, no litoral de São Paulo, afirmou que o marido foi executado a sangue frio. Ela contou ao g1, nesta terça-feira (1º), que o homem foi arrastado de casa para um mangue e “fuzilado” perto do filho de 10 meses (veja acima). A Polícia Civil informou que as 10 mortes na ação ocorreram durante confrontos com os agentes.

Cleiton, de 24 anos, morreu baleado na Rua Operária, no Sítio Conceiçãozinha, ao lado de casa, no último dia 29 de julho. Segundo a esposa dele, que preferiu não se identificar, o marido era ajudante de pedreiro, mas havia sido preso por tráfico de drogas em 2020.

“Ele estava terminando de pagar o ‘BO’ dele, mas isso não justifica o que fizeram”, desabafou a mulher. “O sentimento é de tristeza. Antes de dormir o nosso filho chama ‘papai’. Ele agora não tem mais o papai perto dele”.

A mulher disse também que os policiais ‘forjaram’ crimes de Cleiton na ocasião. De acordo com ela, os agentes pegaram uma das mochilas das crianças e colocaram drogas – não especificadas – dentro, assim como registraram que o marido dela estava com uma pistola no local.

O g1 entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), em busca de um posicionamento sobre as acusações, e foi informado que a pasta está apurando o caso.

Morte de Cleiton

A mulher disse que morava com Cleiton e mais cinco filhos dela no local, sendo apenas um – o bebê de 10 meses – fruto da relação com o homem baleado. Ela afirmou que, na data do ocorrido, trabalhava fora de casa e havia deixado o marido cuidando da criança.

À reportagem, a mulher contou ter sido informada que policiais entraram no imóvel e arrastaram Cleiton para fora, levando o homem para uma área de mangue ao lado da casa. A mulher afirmou que o marido foi executado por um tiro de fuzil, mas não soube dizer a parte do corpo onde ele foi atingido.

De acordo com a viúva, instantes após a suposta execução, um dos filhos dela, de 13 anos, voltou para casa e viu a situação. “Perguntaram: ele mexe com vocês? Maltrata? Meu filho disse que não. E foi ai que esse policial [voltou ao beco e] deu dois tiros para o alto, para fingir que foi o meu esposo”.
Por fim, ela relatou que o bebê foi entregue por um policial ao outro filho dela, de 13 anos, antes dos agentes deixarem o local. Segundo a família, Cleiton foi enterrado na última segunda-feira (31), no Cemitério Consolação, também em Guarujá (SP).

Moradores relatam medo

Moradores fizeram uma manifestação, na noite de segunda-feira (31), na entrada do bairro Sítio Conceiçãozinha, em Guarujá, contra a operação da Polícia Militar (PM) iniciada na última sexta-feira (28), após a morte do PM da Rota Patrick Bastos Reis.

“A população inteira do Guarujá (SP) só quer paz […]. O direito é de levar e prender, não é estar matando ninguém que nem bicho. Cada um tem que pagar o preço pelo que fez, [mas] não acontecer do jeito que estão fazendo. Matando, desovando e desrespeitando. Não é dessa forma”, disse uma das moradoras, que preferiu não se identificar.

Ao g1, os manifestantes informaram que os policiais estão invadindo residências da comunidade, agredindo e matando, de acordo com eles, trabalhadores.

“Nem todo mundo é bandido. A gente é trabalhador. Só está morrendo trabalhador […]. Já mataram vários e a gente precisa acabar com isso. A gente precisa de segurança. Nós estamos pedindo socorro”, afirmou outra moradora da comunidade.

Áudios de desespero

Moradora de Guarujá, SP, informou à TV Tribuna que mortos foram torturados, que não existiu confronto com a polícia — Foto: TV Tribuna

O repórter Diego Bertozzi da TV Tribuna, afiliada da Rede Globo, conversou com alguns moradores das comunidades. Eles tiveram apenas os áudios reproduzidos e transcritos na matéria devido ao medo de retaliações.

Eles falam que a polícia tem levado terror com a operação e citam casos de tortura, cenas forjadas, xingamentos, invasões e execuções.

Entenda o caso

O soldado Patrick Bastos Reis foi baleado enquanto fazia um patrulhamento na comunidade da Vila Zilda, em Guarujá, na quinta-feira (27). A morte dele foi confirmada no mesmo dia. Além dele, outro policial foi baleado na mão esquerda, encaminhado para o Hospital Santo Amaro e liberado.

Após o caso, a Polícia Militar iniciou a Operação Escudo, com o objetivo de capturar os criminosos responsáveis pela ação contra os agentes.

Erickson David da Silva, também conhecido como “Deivinho”, foi capturado na Zona Sul de São Paulo, durante a noite do último domingo (30). Segundo informações da polícia, Erickson tem 28 anos, é solteiro e era o “sniper” utilizado pelos traficantes. Ele teria atirado em direção ao soldado da Rota de uma distância de mais de 50 metros.

A polícia alega que o homem teria atirado enquanto estava de “guarda” em uma “biqueira” no alto de uma comunidade. Ele também, segundo a polícia, teria “confundido” a viatura da Rota com um veículo do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) antes de disparar.

Mortes

Em vídeo gravado antes de ser preso, o suspeito afirma, em relato direcionado ao governador de SP e ao secretário de Segurança Pública, que estão “matando uma ‘pá’ de gente inocente”. Ele diz não ter nada a ver com o caso, mas que vai se entregar. Erickson diz ainda que estão “querendo pegar” sua família (veja o vídeo acima).

O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, afirmou nesta segunda-feira (31) que o vídeo gravado pelo suspeito foi “uma estratégia do crime organizado”.

“A verdade é que esse vídeo que ele fez, orientado pelos seus defensores, inclusive tem áudio do advogado orientando-o a fazer esse vídeo, se os senhores ainda não possuem, ao longo das investigações vão tomar conhecimento disso, é uma estratégia do crime organizado, inclusive de cooptar moradores, de cooptar pessoas das comunidades que também são vítimas do tráfico organizado apresentando versões”, afirmou.

A Ouvidoria das Polícias informou que identificou 10 mortos em decorrência de intervenção policial na Operação Escudo, feita pela PM no litoral paulista no fim da semana.

O órgão informou estar investigando também as denúncias de tortura e ameaças de morte relatadas por moradores. Além dele, o governador acrescentou que outro três envolvidos já estão presos, após trabalho de inteligência da Polícia Militar.

Reforço

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o secretário de segurança do estado, Guilherme Derrite, anunciaram aumento do efetivo policial e uma nova unidade em Guarujá, no litoral de São Paulo, após a morte do PM da Rota Patrick Bastos Reis. Segundo o governador, as ações se fazem necessárias pois “o tráfico ocupou a Baixada Santista”.

De acordo com Tarcísio, a Operação Escudo vai continuar na Baixada Santista por pelo menos 30 dias. Além disso, o governador ainda prometeu novas ações na região.

“Nós vamos levar para a Baixada Santista o aumento de efetivo, unidade da Polícia Militar. Nós devemos ter mais uma unidade da Polícia na Baixada para aumentar o efetivo e responder o anseio da Baixada”, disse Tarcísio.

Foto: Arquivo Pessoal e Reprodução

LEIA TAMBÉM

Envie seu comentário