Por Hoje em Dia/Blog do Lindenberg – blogdolindenberg@hojeemdia.com.br
Foram necessárias 91 mortes – e esse número pode subir porque há muitos desaparecidos – para que o presidente Jair Bolsonaro desembarcasse ontem em Recife chefiando uma comitiva de cinco ministros e o presidente da Caixa Econômica Federal, além de criticar o governador do Estado, Paulo Câmara, do PSB, partido que lhe faz oposição, porque ele não estava na hora da entrevista.
O presidente, no entanto, não lembrou sequer de dar um telefonema ao governador ou avisar que ele estaria em Recife nessa segunda-feira, cabendo-lhe dizer que esse tipo de situação acontece pelo país afora, lembrando que houve chuvas em demasia em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Norte de Minas, lembrando até que em São Paulo as pessoas constroem casas nas encostas dos morros e depois reclamam quando as casas vêm abaixo.
Bolsonaro pode ter lá as suas razões, quando disse, por exemplo, que o prefeito de Jaboatão de Guararapes decretou estado de calamidade e até já recebeu o que pediu – ou quase – de forma que essas enchentes têm um rito próprio, a começar pelo prefeito decretando o estado de calamidade ou de emergência.
O que o presidente da República não comentou, porque não lhe convém, foi que, nesses três anos e meio de governo, segundo o jornal Folha de São Paulo, Bolsonaro teve 48 dias úteis sem nenhum compromisso oficial e que ele já tirou, segundo a Folha, mais dias de folga do que os seus antecessores Luiz Inácio Lula da Silva e a própria Dilma Rousseff. Bolsonaro “folgou” em 15 ocasiões; no mesmo período de sua gestão, Lula folgou três e Dilma, sete. Segundo a Folha, o presidente embarcou 11 vezes para o Forte dos Andradas, no Guarujá, três vezes para o Forte Marechal Luz (Santa Catarina) e uma vez para Aratu (Bahia), a maior parte dessas férias e feriadões em 2020, em plena pandemia, quando morriam centenas de pessoas por dia – hoje já não morrem tantos, felizmente – e nesses três anos, fora as motociatas, em 69 dias só houve compromisso de trabalho após o meio-dia.
Na sua visita a Recife, que durou pouco mais de duas horas, ontem, o presidente lamentou que “infelizmente essas catástrofes acontecem. Estamos tristes e manifestamos nosso pesar aos familiares das vítimas”, enfatizou.
E ficou nisso, com uma sobra de caixa para o governador Paulo Câmara que não foi receber o presidente da República – até por que também não foi avisado da visita. O que não livrou o governador da politização da visita presidencial, cabendo a Bolsonaro dizer que “será a população quem irá decidir”, numa referência indireta ao fato de Geraldo Alckmin, vice de Lula, ser do mesmo partido do governador Paulo Câmara, além de Lula ter nascido também em Pernambuco. Ontem, o prefeito de Recife, João Campos, decidiu que neste ano não haverá festas juninas na cidade e que a verba destinada aos festejos, no valor de 15 milhões, será distribuída ao amparo às vítimas das enchentes.
Foto: Reprodução/Brasil de Fato/PE