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Comentário da tarde por Carlos Lindenberg   Presidente da República do Brasil é voz dissonante entre líderes mundiais, acompanhe.  

7 de janeiro de 2021, 22h00 | Por Carlos Lindenberg

by Carlos Lindenberg

Não é possível que o presidente da República do Brasil possa em sã consciência endossar tese do seu aliado Donald Trump, dos Estados Unidos, de que houve fraude nas eleições norte-americanas, vencidas pelo democrata Joe Biden, em novembro do ano passado.

Ora, nem Trump nem Bolsonaro apresentaram qualquer prova material de que houve fraude nas eleições do antigo “grande irmão do Norte”, e que culminaram na invasão na noite de quarta-feira, dia 06/01, do Capitólio, a majestosa sede do Congresso dos Estados Unidos com alguns mortos e dezenas de feridos, no que o ex-presidente George W. Bush, republicano como Donald Trump, considerou como o mais grave atentado às liberdades democráticas do país americano.

De fato, algo impensável para quem tanto preza o voto popular.

Nesta quinta-feira (7), Joe Biden considerou os invasores do Capitólio como “terroristas domésticos”, na verdade uma parcela da minoria branca dominante, um bando de arruaceiros, criados a partir da eleição de Trump há quatro anos, que simplesmente tentou desmoralizar a vitória de Biden, ao dizer que a vitória do democrata foi produto de fraude. Se isso ficasse por lá, por mais vergonhoso que isso fosse, menos mal.

Mas o presidente Bolsonaro resolveu importar para o seu governo, ao invés de importar seringas e vacinas contra a Covid-19, essa bobagem de que a vitória de Joe Biden foi produto de fraudes e outras coisas mais. Isso sem o menor resquício de provas materiais, hipótese, aliás, já descartada por autoridades norte-americanas e por observadores internacionais, no que é hoje o que se convencionou chamar de uma “mentira cabeluda”, uma inverdade tosca e sem qualquer comprovação – uma lorota, diria o jornalista Élio Gaspari.

O pior veio depois, e sempre naquelas saídas de Bolsonaro ao falar com seus fanáticos seguidores, uma meia-dúzia que vai ali para orar pelo presidente, para tirar fotos com ele, e ficam a escutar essas sandices que acabam ganhando espaço na mídia, quando na verdade a mídia deveria ignorar essas bobagens. Pois Bolsonaro teve o desplante de dizer que pior será no Brasil se o voto não for impresso – ele que já venceu seis eleições pelo voto eletrônico e não contestou nenhuma delas.

A conversa de Bolsonaro ontem com seus seguidores pode sugerir quem sabe uma ameaça de que coisa pior poderá acontecer em 2022 se o voto aqui não for impresso, quando na verdade o voto nos Estados Unidos também é impresso, de forma que a advertência de Bolsonaro soa como uma ameaça, à luz do que aconteceu na quarta-feira nos Estados Unidos. Ora, pior como? Alguém deveria chamar o presidente a explicar o que ele quis dizer com a essa ameaça, que, na realidade, como todas as outras, acaba caindo no vazio, por falta de crédito em quem as blasfema.

 

 

Foto: Pcture Aliança

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