A ida do presidente Jair Bolsonaro para discursar na Assembleia-Geral da ONU foi um fracasso total, como se deduz do noticiário nacional e do internacional. O presidente parece ter desconhecido os pragmáticos do Itamarati e enveredou por números trocados propositalmente – como o de que o desmate da Amazônia foi reduzido em 30 por cento – além de que, ao que parece, preferiu dirigir-se à sua base eleitoral como a incentivá-la sobretudo no momento em que disse que salvou o Brasil do “socialismo”, um disparate total.
Mas não ficou nisso o presidente brasileiro. Em cima da hora desmarcou uma entrevista à ONU News e deixou o prédio das Nações Unidas sem responder a uma pergunta sequer dos jornalistas que o aguardavam, como se fugisse do seu próprio discurso, feito minutos antes, ou para fugir de uma realidade que ele pintou adredemente. Talvez até retorne ao Brasil antes de quarta-feira, numa viagem marcada por cenas bizarras, como aquele almoço na porta do restaurante que barrou a comitiva brasileira ou ainda nos gestos obscenos feitos pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a manifestantes brasileiros que vaiavam o presidente, de forma que a participação de Bolsonaro na septuagésima sexta assembleia geral da ONU foi um fiasco, a não ser quando se dirigiu aos seus seguidores aqui no Brasil, ou mesmo em Nova Iorque, onde, aliás, o prefeito da cidade disse que teria sido melhor ele não ter ido às Nações Unidas para não dar o mau exemplo de alguém que se recusa a receber a vacina, fatos por sinal que o presidente da Câmara, Arthur Lira, e o do Senado, Rodrigo Pacheco, consideram normais, ainda que Pacheco tenha feito o reparo que nem tudo o que Bolsonaro disse ele possa concordar.
O fato é que o presidente brasileiro pintou um quadro, aqui no Brasil, como no mundo, que não é real, distorceu dados a seu bel prazer, criticou por exemplo o chamado “kit-Precoce”, que o planeta inteiro considera ineficaz contra o Covid-19, mas com tudo isso não deixou de botar pilha nos seus seguidores num discurso em que teria tido a inspiração de seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro. Enfim, com Bolsonaro não tem erro: ele muda tudo ao sabor de sua conveniência. Mas tem quem goste.
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