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Extrema direita de Portugal descarta pagar por custos da escravidão

26 de abril de 2024, 16h25 | Por Letícia Horsth

by Letícia Horsth

As celebrações oficiais do 25 de Abril trouxeram à tona a dificuldade que Portugal enfrentará ao lidar com os custos dos crimes da escravidão cometidos em suas ex-colônias, como sugeriu informalmente o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Na última terça-feira (23), Rebelo destacou a responsabilidade do país nos crimes da escravidão transatlântica e da era colonial, sugerindo a necessidade de reparação. Os comentários foram feitos durante um encontro com jornalistas da Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal.

“Temos de pagar os custos. Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isto”, disse na ocasião.

No entanto, os três representantes dos partidos de direita e extrema direita, que juntos detêm a maioria de 142 entre 230 deputados no Parlamento, aproveitaram seus discursos para atacar o presidente e desconsiderar uma possível votação de propostas de reparação na Assembleia.

Vale destacar que o descarte da responsabilização pelo tráfico transatlântico de milhões de escravos para o Brasil e pelos crimes cometidos durante a era colonial é um ponto comum entre a direita tradicional e a extrema-direita.

O deputado André Ventura, presidente do partido de ultradireita Chega, fez o ataque mais contundente e exigiu uma retratação do presidente, conforme informações com a coluna Portugal Giro, do Globo.

“O senhor presidente traiu os portugueses. O senhor foi eleito pelos portugueses. Não foi eleito pelos guineenses, pelos brasileiros. Pagar o quê? Pagar a quem? Eu tenho orgulho da nossa história, eu amo este país”, declarou Ventura.

Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, seguiu a mesma linha de pensamento radical: “Senhor presidente, História não é dívida. E História não obriga a penitência. Quem declara ser nossa obrigação indenizar terceiros pelo nosso passado, atenta contra os interesses do país, reduz-se à função de porta-voz de sectarismos importados e afasta-se do compromisso de representar a esmagadora maioria dos portugueses”.

Já Nuno Melo, do CDS – Partido Popular, membro do governo e da coligação de centro-direita Aliança Democrática, que levou à eleição do primeiro-ministro Luís Montenegro em março, considerou o tema controverso.

“No CDS não sentimos necessidade de revisitar heranças coloniais, não queremos controvérsias históricas, nem deveres de reparação que parecem importados de outros contextos. A História é a História. E o nosso dever é o futuro”, ressaltou.

Durante mais de quatro séculos, pelo menos 12,5 milhões de africanos foram sequestrados, transportados à força, principalmente por navios e comerciantes europeus, e vendidos como escravos.

Portugal traficou quase 6 milhões de africanos, mais do que qualquer outra nação europeia, mas até agora não confrontou plenamente seu passado e pouco se ensina sobre seu papel na escravidão transatlântica nas escolas.

Com informações do Diário do Centro do Mundo.
Foto: reprodução.

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