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Brumadinho 5 anos depois: o que mudou no cenário da tragédia e nas buscas

15 de janeiro de 2024, 10h41 | Por Letícia Horsth

by Letícia Horsth

A área atingida pelos 9,7 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério de ferro despejados pela barragem da Vale em Brumadinho (MG) está bem diferente cinco anos depois do rompimento — muito em função das estratégias adotadas pelos bombeiros nas buscas às vítimas e de obras da mineradora.

O que aconteceu – A lama secou, e cerca de 75% do rejeito foram vistoriados — o que corresponde a 7,2 milhões de m³. Esse material já passou pela inspeção dos militares do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, à procura de corpos, segmentos de corpos e objetos que ajudassem na localização das vítimas e identificação delas.

O trabalho está concentrado em cinco estações de buscas. As estruturas começaram a funcionar em 22 de setembro de 2021, dando início à 8ª fase da operação. Dentre os segmentos de corpos encontrados desde então, houve material que levou à identificação de quatro novas vítimas — a última delas em 20 de dezembro de 2022.

As estações ficam na área em que funcionava o terminal de cargas ferroviário da mina. Esse terminal é o que aparece em um vídeo, divulgado e compartilhado à exaustão uma semana após o rompimento da barragem, em que a lama avança e cerca uma caminhonete e uma escavadeira. Ele fica a aproximadamente 200 metros do pé da barragem e, por isso, foi atingido pela lama em segundos.

Nos três anos iniciais da operação, porém, as buscas eram feitas ao longo dos 10 km atingidos. Quando não precisaram mais rastejar no terreno, os bombeiros passaram a contar com máquinas para a escavação do rejeito — em alguns pontos, a profundidade chegou a quase 20 metros. O trabalho era feito da barragem ao rio Paraopeba. Hoje, o rejeito dessas áreas é levado até os bombeiros, nas estações de busca.

Ainda é possível ver o que sobrou da barragem. Cerca de 2 milhões de m³ de rejeito continuam no local. Não foram feitas grandes intervenções na estrutura, a não ser em obras ao redor, e o mato rasteiro cobre o material também permaneceu.

O pontilhão da linha férrea, que teve duas pilastras levadas pela lama, também permanece. Era por ele que passavam os trens com minério carregados no terminal ferroviário ao pé da barragem. Ainda não se sabe o que será feito da estrutura remanescente.

A base operacional dos bombeiros continua montada. Depois de ocupar por 27 dias a igreja e o campo de futebol do Córrego do Feijão, bairro rural encostado na mina, os bombeiros ganharam uma segunda base, a Bravo, e estão lá até hoje. Ela está instalada em um clube da Ferteco, antiga vila de funcionários da mineradora, a 200 metros de onde ficava a portaria da mina.

A área foi transformada em um canteiro de obras. Segundo a Vale, são obras de reparação, com barreiras e dique para contenção do avanço do rejeito, recuperação do leito do córrego Ferro-Carvão e tratamento da água — o leito do córrego foi tomado pela lama — e restauração da vegetação. Houve uma perda de 140 hectares de floresta nativa.

A zona quente — como os bombeiros chamam a área de buscas — está cercada e ninguém entra sem autorização. Nos primeiros dias após a tragédia, em que não se tinha policiamento suficiente ao redor da área para impedir o acesso, muita gente se arriscou na lama em busca de parentes e amigos. Hoje, o controle é total da Vale e só pessoas autorizadas, com equipamento de segurança, crachá com geolocalização e acompanhamento de batedores, podem entrar.

Como funcionam as estações de busca

A estação de busca é composta, basicamente, de um equipamento de mineração adaptado para a operação. O rejeito retirado da zona quente é levado em caminhões até a estação, colocado em esteiras que separam o material mais espesso (acima de 5 cm) do mais fino e vistoriado por um bombeiro. O tamanho foi definido juntamente com especialistas da Polícia Civil de Minas Gerais, afirma o Corpo de Bombeiros.

A inspeção é feita a partir de uma cabine. Os bombeiros ficam em uma espécie de contêiner climatizado, não precisando mais fazer buscas debaixo de sol e em meio à poeira. A escala é de duas horas de trabalho por duas de descanso, em esquema de revezamento — sempre em duplas.

O rejeito desce por uma esteira na frente da cabine. Ao visualizar qualquer material que possa ser um segmento humano (“objeto de interesse”, como a corporação e a Vale chamam), o bombeiro dá o comando de parada ao operador do equipamento, deixa a cabine e vai até a esteira verificar. Toda suspeita é recolhida e posteriormente analisada por peritos da Polícia Civil.

Hoje a operação conta com 14 bombeiros a cada semana, distribuídos entre o trabalho nas estações de busca e a parte administrativa — a troca de equipes é feita toda quarta-feira. Na primeira semana, quando o Corpo de Bombeiros de Minas recebeu apoio de corporações de outros estados, as buscas chegaram a reunir 400 bombeiros.

Quando as buscam terminam

Não há prazo para o encerramento das buscas. A pedido dos familiares de vítimas não encontradas e por determinação do governador Romeu Zema, as buscas devem prosseguir até encontrar as três vítimas que faltam.

Quem são essas vítimas: a corretora de imóveis Maria de Lourdes da Costa Bueno, a Malu, que estava com a família em uma pousada atingida pela lama; a estagiária Nathalia de Oliveira Porto Araújo e o engenheiro mecânico Thiago Tadeu Mendes da Silva, ambos funcionários e surpreendidos pelo rejeito enquanto trabalhavam na mina.

Já são mais de 1.800 dias de buscas. As ações chegaram a ser interrompidas por duas vezes por causa da pandemia de covid-19, mas o trabalho dos bombeiros continuou internamente na elaboração de estratégias. Esta é considerada a maior operação de buscas e salvamento do mundo.

A barragem rompeu em 25 de janeiro de 2019. O número oficial de mortos é de 270 — as famílias contam 272, pois duas vítimas estavam grávidas.

Com informações do UOL.
Foto: Letícia Horsth.

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